A infância pobre
Tornou-se auxiliar de trabalho, diácono e presbítero da sua igreja. Sempre com bastante simplicidade, moderação e humildade. Muitos ficavam admirados, porque mesmo com sua idade avançada, enfermidades e sobrepeso, fazia questão de ficar na porta de sua congregação recepcionando amigos e visitantes. Pastoreou (liderou) congregações como as localizadas na Usina Roçadinho, Hélio Jatobá I, Avenida Hélio Jatobá e Loteamento Hélio Jatobá III.
Dois detalhes curiosos, no dia do seu falecimento ninguém sabia, mas Deus já o havia agraciado com seu terceiro neto, que tinha apenas quinze dias de gerado, seu tamanho era aproximadamente de uma semente de gergelim; o segundo detalhe é que ele estava lendo (não chegou a concluir) o livro: A história do povo hebreu, do historiador Flávio Josefo.
José Campos da Silva nasceu em 05 de agosto de 1948 no munício de Água Preta em Pernambuco, filho de Amaro Campos da Silva e Maria Noel da Conceição, família muito humilde de cortadores de cana.
Mas, na verdade, sua mãe deu a luz em um casebre no município de Campestre, município de Alagoas, por não haver muitos cartórios de registro civil, era comum na época colocar nas certidões de nascimento o local onde a criança era registrada. Logo, José Campos foi um pernambucano de alma alagoana.
Desde jovem ajudava ao seu pai na lavoura de cana-de-açúcar como cambiteiro (empregado que amarava os feixes de cana-de-açúcar e transportava para os caminhões), apesar do trabalho duro, não abandonava os estudos, uma vez que o Sr. Amaro, mesmo não sabendo ler, fazia questão que houvesse uma escola perto do seu trabalho para dar um futuro melhor aos seus filhos.
Sua infância foi muito difícil e para dificultar ainda mais a tão sofrida vida, sua genitora abandonou o lar, o que obrigou ao seu pai a assumir todas as funções em casa, para cuidar dele, do seu irmão mais velho, Cícero Campos, e do caçula, Severino Campos.
O estudante disciplinado
Aos oito anos de idade ingressou na Escola Municipal de Campestre, Estado de Alagoas. Foi uma época de pequeno alento, porque tinha assegurado nos dias letivos uma refeição fornecida pela escola. Muitas vezes essa era a única refeição do dia.
Em 1964, aos dezesseis anos, ingressou no ensino fundamental do Ginásio Municipal Agamenon Magalhães, no município de Palmares, no Estado de Pernambuco.
Em 1970 na U. Sta. Terezinha: Gilberto, Reginaldo, P. Eugênio e Campos |
Nessa época, sua dedicação aos estudos e disciplina pessoal, o fez ser selecionado para atuar como uma espécie de monitor escolar, que organizava as salas de aulas e auxiliava aos professores quando havia necessidade, chamado de bedel na época.
Em 1968, ingressou no Colégio Diocesano dos Palmares. Após a conclusão do ensino médio (científico), estudou de 1971 a 1972, o curso Técnico em Contabilidade no Colégio Comercial e Normal dos Palmares.
Admirava a carreira militar por sua disciplina e sonhava em ser médico, mas nos dois anos de preparação para o vestibular, se apaixonou pelo Direito e foi aprovado no 23º lugar do vestibular na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), obtendo o título de bacharel em Direito no ano de 1978. O negro e filho do cortador de cana Amaro Campos, sempre comentava que parecia um sonho toda vez que entrava no campus de Direito da UFPE e sentava naquelas bancas (importadas da França) junto com filhos de pessoas da alta sociedade recifense.
Também concluiu em 2005 o bacharelado em Teologia pela Faculdade de Filosofia e Teologia de Alagoas.
Vida profissional: de Auxiliar a Advogado
Década de 80: Domício, Douglas Apratto, Jorge Gouveia e Campos |
Em 1969, devido a sua dedicação e disciplina, foi contratado como Auxiliar Carteira Frete pela Usina Santa Terezinha S/A no município de Água Preta. Após onze anos na empresa foi transferido para a sede da Usina em Recife para ocupar a função de Caixa Executivo, mas nesse ínterim exerceu as funções de Encarregado Carteira Frete, Auxiliar Carteira Fiscal, Encarregado Carteira Fiscal e Mecanógrafo.
No ano de 1975, o grupo pernambucano Mendo Sampaio comprou a Usina Roçadinho na cidade de São Miguel dos Campos, no Estado de Alagoas. Logo, após a sua colação de grau, o agora advogado José Campos, recebeu um convite para assumir o setor jurídico desse grupo na Terra dos Caetés.
De malas prontas, desembarcou na cidade de São Miguel dos Campos no início de 1980, se estabeleceu com sua família na Usina Roçadinho e passou a exercer as funções de Chefe de Escritório, Preposto e Advogado nas Juntas Trabalhista e Cartórios Cíveis. Desenvolveu uma grande amizade com José Gusmão de Araújo, ou simplesmente Zé Araújo, Gerente Geral da Usina Roçadinho.
Mas foi obrigado a se desligar dessa empresa em 1983, pois se tornou advogado autônomo atuando nas áreas trabalhista, cíveis e criminais. Período em que também passou a ministrar aulas de Direito, Legislação e Técnicas Comerciais no Colégio Mário Soares Palmeira. No início da década de 90 atingiu o apogeu profissional atuando em complexas causas trabalhistas e cíveis tal como em Tribunais de Júri. Foi o segundo presidente da 6ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em São Miguel dos Campos, sendo seu Presidente por dois mandatos consecutivos.
Foi um advogado por excelência e a exerceu com denodo até na véspera do seu falecimento. Seu último ato foi uma Apelação junto ao Tribunal de Justiça de Alagoas para discutir uma Ação Revisional de Juros de Contrato.
No dia 17 de setembro de 2015 foi inaugurada a Sala dos Advogados no Fórum Desembargador Moura Castro, mais precisamente das dependências do Juizado Especial. “Esta é uma justa homenagem e o reconhecimento de toda a classe a José Campos, que faleceu em julho deste ano e escreveu sua história com uma conduta sempre ilibada. Ele era um dos Advogados mais admirados da região”, disse o atual presidente da OAB - 6ª Subseção de São Miguel dos Campos, Dr. Aloisio Rosendo Júnior.
Vida pessoal: pai e esposo dedicado
Década de 70: Campos e Eliana, sua esposa |
O ano de 1978 foi um ano inesquecível na sua trajetória, primeiro em dezembro, por sua colação de grau e segundo, por ter decidido subir ao altar com sua noiva, Eliana Cristina Lins da Silva, no dia 04 de fevereiro de 1978. Também enfrentou barreiras no início do relacionamento com sua esposa, pois sofreu com preconceito racial da família da então namorada porque sua esposa era de uma etnia diferente (caucasiana). Todavia, superaram juntos todas as dificuldades e conviveram até os últimos dias da sua vida.
Da relação nasceram três filhos: Júlio César Lins Campos, Felipe José Lins Campos e Brandon Lins Campos e três netos: Davi César Silva Campos, Júlia Campos (na memória) e Benjamin Temóteo Lins Campos.
Ultimamente se dizia realizado por todos os filhos terem tido o privilégio de chegar a uma universidade. Júlio licenciado em matemática, Felipe bacharel em Direito e Brandon cursando Psicologia.
Vida espiritual: o Ensinador
Outro fato interessante da sua vida pessoal ocorreu no ano de 1998, até então era um cristão nominal com características gnósticas. Mas durante o desgastante processo oriundo de um cisma entre liberais e ortodoxos ocorrido na Igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD) em São Miguel dos Campos,
ele se converteu ao cristianismo, na vertente protestante, na cidade do Roteiro, município de Alagoas.
ele se converteu ao cristianismo, na vertente protestante, na cidade do Roteiro, município de Alagoas.
O fato foi bem interessante porque ele estava com uma enfermidade nas cordas vocais que o impossibilitava de falar. Mas sem avisar foi buscar sua esposa na IEAD no município do Roteiro, após a reunião, a Dirigente do Círculo de Oração, que acompanhava um Promotor que foi o pregador da noite, perguntou se ele queria “aceitar a Jesus?”. Ele respondeu que já o tinha. Sabiamente a dirigente retrucou e disse: “Então podemos orar por sua voz?”. Imediatamente ele sinalizou que sim e ela pediu que ele se ajoelhasse. Após a oração, a pregadora insistiu: “E agora? Você quer aceitar a Jesus?” e ele respondeu: “O problema era ajoelhar, mas como já estou ajoelhado, sim”.
Com pouco tempo se tornou um arauto do Evangelho e defensor da fé. Nos últimos dezessete anos de vida, dividiu o sacerdócio da advocacia com a vocação de ensinador e aos cuidados com a família e amigos.
Em 1999, batizado pelo Missionário Alberto Olímpio |
Sua personalidade era interessante, sempre teve um coração muito grande e era um pacificador por excelência, alcançando de todos os familiares e amigos uma espécie de referencial nos momentos de dificuldades, pois sempre tinha uma forma de resolvê-los.
Uma das frases mais pronunciadas pelos seus amigos foi: “Ele foi como um pai para mim”, devido a inúmeras pessoas que ajudou ao longo da vida sem esperar nada em troca, mas por causa do seu enorme coração.
Um coração tão grande que parou de bater no dia 7 de julho de 2015, aproximadamente às 2h40m da manhã na Santa Casa de Misericórdia de São Miguel dos Campos.
Poucos dias antes do falecimento, tinha sonhando com muito ouro e comentado com sua esposa. Não tinha entendido bem o sonho, mas após a sua partida, todos entenderam que Deus já o tinha chamado, pois ouro, na tipologia bíblica, fala de divindade e realeza.
Sua última oração, na véspera do seu falecimento, foi de agradecimento a Deus pelos filhos, esposa e netos e, mesmo sem forças, foi renovado e entoou um hino sacro intitulado "Avante, Servos de Jesus" o qual no último verso diz: "Cerrai fileiras, ó fiéis, sempre avançai; No céu coroas e lauréis, Jesus vai nos dar".
Em sua casa: Eliana, Aliete, Brandon, Campos, Júlio, Charles e Felipe |
O Rev. José Orisvaldo Nunes de Lima, que presidiu a cerimônia fúnebre declarou as realizações do presbítero como um ajudador da obra e resumiu: “A família ficou mais pobre, a igreja ficou mais pobre, mas hoje o céu está mais rico”.