2 de mar. de 2012

AS ORIGENS DA VIOLÊNCIA MIGUELENSA - PARTE FINAL

Encerraremos a série de artigos sobre as origens da violência miguelense, apontando mais duas causas do aumento da criminalidade na Terra dos Caetés: a desestruturação familiar e o aumento da cultura do consumo. Antes de discorrer sobre elas, é necessário fazer uma retrospectiva das demais causas:

1) Ocupação de áreas sem planejamento, o que gerou o bolsão de misérias Hélio Jatobá. Entenda “sem planejamento”, como a falta de plano diretor, área verde, área de lazer, saneamento básico, postos policiais e etc.

2) O segundo motivo do aumento da criminalidade foi à boa mudança ideológica dos gestores de segurança pública somada à falta de modernização da forma de gerir a segurança pública.

3) A terceira causa para tanta violência em São Miguel dos Campos foi a migração da criminalidade oriunda de grandes centros urbanos, também chamada de interiorização da criminalidade.

Após essa apertada síntese, passaremos a analisar mais prováveis causas.

4) No que tange à desestruturação familiar, pesquisas recentes mostram o surgimento de novos arranjos familiares, a saber, famílias monoparentais (feminina ou masculina), biparentais (hétero ou homossexuais) e reconstituídas. Que são, no nosso entender, extremamente nocivas ao desenvolvimento sadio das crianças.

Sabemos que a família é a célula mãe da sociedade e toda vez que esse instituto sofre perdas, a própria sociedade também sofrerá. Em regra, a maioria das mentes criminosas é oriunda dos novos arranjos familiares ou de famílias “tradicionais” desestruturadas, como por exemplo, pais que espancam seus filhos, pais que não dedicam um tempo para seus filhos ou são permissivos demais ou até mesmo não amam seus filhos.  É comprovado que a maioria dos criminosos durante a infância não recebeu carinho (abraços, afagos etc).

Por outro lado, mesmo para as famílias com prognósticos negativos, se o amor reger as ações pedagógicas, a criança terá toda uma propensão ao desenvolvimento sadio. Lembramos apenas que o verdadeiro amor, segundo o Apóstolo Paulo, “não folga com a injustiça”, encobrir erros de filhos é um erro gravíssimo, pois estaremos praticando injustiça e destruindo sua moral.

5) E o quinto e último motivo do aumento da violência em nosso município é o aumento da cultura do consumo, nas últimas décadas fomos altamente influenciados pelo o que conhecemos por “american way of life” ou estilo de vida americano, onde passamos a ser aquilatados por aquilo de temos e não pelo que somos.

Isso é lastimável! Até pouco tempo não havia uma formação de tribos ou guetos de acordo com os bens que possuíamos, até porque não havia disponibilidade de tantos bens de consumo, além do mais, as pessoas eram mais conformadas com o que tinham e não deixavam de suprir suas necessidades básicas em detrimento de algo supérfluo.

Hoje se um jovem ou adolescente quiser ser aceito em alguns grupos tem que possuir roupas de grifes, iphones, tênis importado e outras banalidades, ou seja, os jovens buscam se diferenciar dos demais, através do uso de marcas famosas, se igualando a outro grupo de pessoas, o das fúteis que tem dinheiro para comprar bens de consumo. Paradoxalmente, tentam se diferenciar se igualando, sem entender que roupas caras não mudam ninguém.

Tenho muitos amigos que nunca passaram necessidades materiais, mas pelas vias normais, demorariam algum tempo até possuírem alguns bens de consumo, pois para consegui-los honestamente, sendo bem sucedidos profissionalmente, é processo que leva tempo, por isso enveredaram para o crime.

No nosso município isso é ampliado, pois a economia gira em torno do São João é São Miguel. Jovens passam o ano todo tentando de todas as maneiras conseguir dinheiro para ostentar os seus bens (roupas caras, carros customizados, sons potentes, “whiskies” 12 anos, etc) durante os 20 dias de festas. Caso não consigam licitamente, se suas famílias forem desestruturadas, não hesitaram em delinquir para conseguir seus objetos de desejo.

Será que é proporcional o aumento da criminalidade decorrente da propagação da cultura do consumo decorrente do São João em São Miguel em relação à renda sazonal gerada por esse evento?

Cremos que geraria um menor impacto se a comemoração voltasse a sua origem, como em 1990, em que se tinham as apresentações verdadeiramente culturais (quadrilhas, coco de roda, etc) e a parte dos mega shows fossem cobrado ingressos a preços módicos, pois não visaria lucro.

Concordo plenamente com o que disse a Desembargadora Nelma Padilha se referindo a Prefeitura de São Miguel: "É absurdo o que as prefeituras gastam com artistas famosos”. Pois apesar de uma parte dos estimados 2 milhões gastos do São João em São Miguel sejam de investidores privados, cremos que não é justo tanto dinheiro ser torrado em futilidades, pois a contratação de bandas/cantores por cachês milionários não é cultura popular e nem a fomenta. Isso é apenas a consolidação da cultura do consumo e da política do pão e circo. Por que não investir essa grana em construção de museus, parques, quadras poliesportiva em bairro vulneráveis ou quem sabe centros realmente culturais?

Diante de tudo isso, temos que entender e fazer com que nossos familiares e amigos entendam que o bem mais precioso é a família e temos que lutar por ela e passá-los a preciosa lição que as pessoas valem aquilo que não se pode aquilatar economicamente, que é o seu caráter e a sua reputação. Só assim começaremos a reduzir nossos alarmantes números relacionados à violência e criminalidade.

Siga-me no twitter: @felipejlcampos

  

5 de nov. de 2011

As origens da violência miguelense (III)


Em recente pesquisa IBOPE, sobre as principais preocupações dos brasileiros, a segurança pública ficou na 3ª colocação com 13% dos votos. Na comparação entre as regiões, os nordestinos se destacam: são os que mais se preocupam com este item e os que convivem com os maiores índices de violência.

Essa preocupação é interessante, pois denota mais um novo fator desencadeador de violência: a migração da criminalidade, pois há três décadas esses fenômenos eram limitados aos grandes centros urbanos da Região Sul/Sudeste.

Mais recentemente, em 1997, tive a oportunidade de por dez anos estudar em Maceió, capital alagoana, e morar em São Miguel dos Campos e, apesar de ser muito novo na época, pude perceber que enquanto alguns pais se preocupavam com o envolvimento dos seus filhos com as drogas ilícitas e a própria segurança deles, devido o início das primeiras ações dos pequenos traficantes e de “trombadinhas”, os pais dos jovens miguelenses, no interior de Alagoas, ainda não tinham essas preocupações.

Além do mais, apesar do início dessas primeiras ações na capital alagoana, a nossa criminalidade violenta, por ser tão ínfima, não era motivo de preocupação. Diferente de outra capital nordestina, Recife, em que o fenômeno da criminalidade já era mais complexo e enraizado, pois lá já havia ação de grandes grupos criminosos.

No ano passado, passei alguns dias em Recife e fui ao centro da cidade, no local conhecido como Marco Zero, local que era tomado pela ação de criminosos, e tive uma boa surpresa, pois pude ver pessoas passeando tranquilamente com seus cônjuges e filhos usando livremente seus bens de consumo (iPhones, bolsas e relógios caros), atitude impensável no início da década de noventa. A ordem social foi restabelecida como fruto de uma gestão dinâmica, pesquisa, investimento e comprometimento do último mandatário do Estado de Pernambuco, tal como o de Sergipe e de alguns outros Estados onde houve redução da criminalidade.

A pergunta é retórica, mas eu a faço: Onde estão os criminosos que atuavam em maior número no Estado de Pernambuco/Sergipe e nas grandes cidades da Região Sul/Sudeste?

Estão implantando seus braços criminosos em locais onde não havia um “know-how” de combate ao crime, pois nunca tinham enfrentado esses problemas. Logo, está havendo uma migração da criminalidade dos grandes centros urbanos para os pequenos centros, isso também se chama de interiorização da criminalidade.

Logo, a terceira causa para tanta violência em São Miguel dos Campos é a migração da criminalidade oriunda de grandes centros urbanos. Li nesse site uma matéria que afirma que está sendo estudo a implantação de uma base de polícia comunitária no bairro Hélio Jatobá. Com certeza a violência na parte alta vai reduzir, mas não em toda cidade, pois se não se tomar outras medidas conjuntas, irá aumentar ainda mais a violência na parte baixa de São Miguel.

Precisa-se levar a segurança pública a sério, inclusive com aumento da dotação orçamentária; conscientização da iniciativa privada da importância de investir na segurança pública e abandono de discursos falaciosos tais como, é preciso melhorar os índices sociais e a educação para diminuir a criminalidade, se isso fosse totalmente verdade, o Brasil não seria sete vezes mais violento que as Filipinas. Nas próximas postagens continuaremos a nos aprofundar nesse tema. Até lá.

Siga-me no twitter: @felipejlcampos
(publicado no alagoasweb.com)

26 de out. de 2011

23 de out. de 2011

AS ORIGENS DA VIOLÊNCIA MIGUELENSE (II)


Gostamos muito da repercussão positiva, em especial nas redes sociais, das primeiras linhas sobre esse tema que resolvemos discorrer em pequenas pílulas de conhecimento para que haja a maior participação de todos nessa problemática que assola a Terra dos Caetés: o aumento da criminalidade.

Esse debate está sendo não só muito interessante como necessário, porque a violência no município em questão não vai reduzir, nem mesmo dobrando o efetivo das forças policiais e a equipando com as melhores viaturas e armas de combate ao crime, se nós não entendermos o porquê do aumento da criminalidade, seria como enfrentarmos um inimigo invisível. Tal como na mitologia egípcia, em que a Esfinge devorava os viajantes perdidos caso não respondesse corretamente aos seus enigmas, nós seremos devorados pela criminalidade se não decifrarmos as origens do aumento da criminalidade miguelense. Esse é nosso intuito. Como respondemos a alguns colegas, não vamos impor verdades, tão somente expormos opiniões. Que o prezado leitor julgue e contribua conosco.

Na primeira pílula apontamos a ocupação desestruturada que fomentou a criação de um bolsão de misérias como foco da criminalidade violenta, mas deixamos uma indagação no ar: Por que não houve o aumento da criminalidade na época da doação dos terrenos do bairro Humberto Alves?

Responderemos sem receio a essa pergunta e afirmaremos o que não ouvimos nenhum especialista em segurança pública afirmar. O principal motivo foi à diminuição, ou quem sabe a erradicação da “faxina ética” realizada por alguns gestores de segurança pública, em que o próprio Estado fingia que não via ocorrer debaixo de suas barbas.

Apesar de algumas pessoas ainda hoje defenderem essa prática vil, não concordamos com ela, pois iguala o agente aplicador da lei ao próprio criminoso. Por outro lado, o fato é que quando algum líder de quadrilha ou bando estava prestes a cruzar a fronteira do Estado de Alagoas e lembrava-se da reputação dos “Anjos da Morte Alagoanos”, dava meia volta. Caso insistisse, seria quase um suicídio, pois seria o fim da sua carreira de crimes. Aliás, quem nunca ouviu falar de pessoas que eram colocadas no “carro do Vasco” e nunca mais se ouvia falar delas?

Pois é. Esse é o método fácil, mas errado de “erradicar” a criminalidade. Destacamos a palavra erradicar, pois o crime não acaba, ele só muda de lado.

Dessa forma, o segundo motivo do aumento da criminalidade foi à boa mudança ideológica dos gestores de segurança pública somada à falta de modernização da forma de gerir a segurança pública. Isso é semelhante àquela regrinha dos sinais: mais (+) com menos (-) é igual (=) a menos (-). A primeira parte foi correta (+), mas a segunda lastimável (-) e gerou (=) esse descalabro da ordem social (-).

Repetimos, a nova ideologia é a correta, mas teria que na transição ter se investido muito mais na modernização da gestão, que não é só armas, isso é o mínimo. Teria que se ter aplicado os recursos no desenvolvimento dos agentes aplicadores da lei, na celeridade dos meios de repressão à criminalidade e em estudos científicos para se antecipar aos fatos e não agir depois dos fatos ocorridos, por isso é que, infelizmente, temos a sensação de que estamos sendo devorados pela criminalidade. “Decifremo-la ou continuaremos sendo devorados”.

Siga-me no twitter: @felipejlcampos
(publicado no alagoasweb.com)

Sobre este blog

Aqui você encontrará notas, opiniões, pensamentos, biografias e algo mais sobre teologia pentecostal e assuntos atuais.