20 de mai. de 2010

COLHER DE CHÁ NA BATALHA


Há algum tempo, quando ainda brincava com os colegas da vizinhança na terra dos caetés, onde morava, por ser o mais novo da turma, nas disputas e jogos eu era tão insignificante que não contavam comigo para não deixar frágil a equipe que eu participava, esse ato nobre de dar um membro a mais a equipe se chamava “colher de chá”[1] e o nome desse membro mais fraco era o “café com leite”[2]. Por que me lembrei disso?
Porque tive o privilégio de ver de perto um oleiro fabricando vasos. Ele primeiro sai de sua casa com uma enxada nas costas a procura de um barro bom para o fabrico dos vasos. Após achar uma boa argila ele a recolhe e se dirige a sua oficina, coloca o barro ainda sem forma em uma roda. A que eu vi ainda era manual, pois ele fazia a roda girar pressionando uns pedais.
Com muita habilidade nas mãos ele começa a dar forma àquele barro e de início faz a base, depois cuida do interior do pote e depois de algum tempo naquela roda, ele cuida do exterior fazendo um bonito acabamento. Trabalho encerrado? Não. Está concluída apenas a primeira fase, pois a parte mais difícil é a fase que o pote é levado ao fogo.
Depois de aquecido o forno, os diversos vasos são colocados nele. Quem já observou o processo sabe que nem todos os vasos ficarão aptos para o uso, pois alguns poucos ficarão crus, outros no ponto, mais uma boa parte deles ficaram queimados, fazendo seu valor cair. Há ainda os que não aguentarão a intensidade do fogo fazendo o vaso rachar ou estourar, perdendo todo seu valor.
Na época em que Paulo escreveu a sua segunda carta aos coríntios, era comum guardar valores e tesouros em vasos (no grego ostrakinos) de barro cozido, material comum e frágil.
Mas qual o objetivo de Paulo ao nos comparar com esses vasos? Qual a real necessidade de o vaso ser moldado e ir para o fogo?
Ora, o vaso é moldado e cozido conforme as habilidades Oleiro, e é Ele quem dá a forma e sabe qual é o uso que aquele vaso terá após o fabrico. O Oleiro não só sabe, como Ele mesmo é quem estabeleceu os seus desígnios para nós. A necessidade de todo processo é estarmos preparados para as intempéries da caminhada quando chegarem os dias maus.
Por isso vaso cru ou apenas chamuscado, não serve para um trabalho árduo, pois não aguentará o peso da obra.
Ressaltando que em recentes aulas do Pastor Antônio Gilberto em Alagoas[3], um de seus ensinamentos que me chamou a atenção, foi que nas diversas vezes que Deus exortou ao povo a andar no caminho certo, Ele afirma primeiro para não nos desviarmos para direita, depois para esquerda. Afirma o grande professor que o povo de Deus tem uma tendência maior a se desviar para o fanatismo do que para o liberalismo, ou seja, a maioria dos vasos recebe fogo demais, diminuindo seu valor ou até mesmo o perdendo.
Primeira grande lição, Deus nos afirma que a virtude está no meio, o vaso tem que ser cozido ao ponto, para suportar o peso da obra a qual ele foi destinado.
Além do mais, ventilamos o paradoxo do ministério apostólico de Paulo e, mais uma vez, esse tema é abordado em seus ensinamentos (At 4.8-9), até porque o sofrimento fez parte do seu chamado.
Durante a escolha de um vaso chamado Paulo de Tarso, o próprio Deus afirmou ao profeta Ananias: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.15-16 – original sem negrito).
Quando Paulo entendeu que ele era um vaso escolhido por Deus e que todo vaso tem que passar pelo molde e pelo fogo, ele deixou uma dos mais belos ensinamentos sobre o sofrimento dos justos, vejamos: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (At 4.8-9).
Afirma James Hermano: “Paulo entendeu seu papel como vaso escolhido para levar esta luz tanto para judeus como para os gentios, mas ele também sabia do sofrimento que sua chamada exigia”[4]
O que Paulo estava querendo dizer à igreja em Corinto com esse jogo de palavras? Finnis Jennings Dake faz a seguinte observação ao comentar esses versículos:
Quatro pares de expressões de sofrimentos: 1 Pressionados, mas não sufocado. 2 Estarrecidos, mas não totalmente frustrados. 3 Perseguidos, mas não capturados. 4 Enfraquecidos, mas não fora da peleja. Os dois primeiros referem-se a uma luta; o terceiro a uma corrida e o quarto, ao pugilismo (original sem itálico).[5]
No gancho desse estudo falei de minhas disputas na infância, exatamente nesse ponto é que ganha importância. Ora, uma disputa espiritual direta entre Deus e o diabo seria desigual, já que Deus é o Dono de todo poder.
Acredito que Deus resolve dar uma colher de chá a seu adversário e mostrar que pode vencê-lo usando um café com leite, usando o material mais comum, simples e frágil da terra: o barro.
Imaginemos o seguinte: inicia-se uma luta, de um lado um adversário que tem um sistema corrompido e dominado por ele e um forte poder de cegar os entendimentos (2 Co 4. 4). Por ter certa força, ganhou diversas alcunhas, entre as mais aterrorizantes: leão que ruge, serpente e dragão. No seu currículo vasto: algumas vitórias sobre homens que se renderam aos seus pés, mas também muitas derrotas.
Do outro lado um frágil vaso feito de barro, mas treinado por um Grande Oleiro. No 1º round, o leão que ruge parte com tudo para cima, oprime e pressiona o pequeno vaso ao ponto de desanimá-lo e deixá-lo estarrecido com a violência dos seus fortes ataques.
O ataque continua e nessa investida com uma chave de braço, quando o pequeno vaso está prestes a sucumbir o Oleiro pede tempo e dá ao vaso uma espécie de líquido, imediatamente o vaso se reanima e parte para o 2º round.
O round é em outra modalidade, uma espécie de corrida, mais uma vez o adversário sai na dianteira com toda força agora no ímpeto de um dragão, mas o pequeno vaso se recupera e toma a liderança, ao vê-lo na liderança o dragão usar todas as forças de suas garras e começa a perseguir o vaso, todavia mais uma vez, o vaso é fortalecido por um líquido que é depositado em seu interior e termina o 2º round na dianteira.
O adversário não se dá por vencido e volta para uma modalidade semelhante a do 1º round, o pugilismo, no round final, o adversário com o ímpeto de serpente, parte com fortes cruzados nos pontos fragilizados do vaso, chegando inclusive a enfraquecê-lo, desnorteá-lo e abater a sua confiança na vitória.
Mas quando pela terceira vez, o perigoso adversário pensa que o vaso vai jogar a toalha branca e vai perder, uma vez que está prestes a levar o golpe fatal… mas de novo o Oleiro entra no ringue e pede tempo técnico, desta vez não só enche o pequeno vaso de um líquido precioso, mas enche-o até transbordar, o pequeno vaso se levanta e brada: “a luta ainda não acabou”. O vaso cheio de ousadia invade o espaço da serpente, levando à lona, a amarra e ainda ganha preciosos bens como troféu, saindo vitorioso na batalha.
Gritam da platéia: “Por que o Poderoso Oleiro não lutou pessoalmente com seu adversário?”. Ao passo que o Oleiro responde: “porque ainda tem vasos de barro para usar na terra!”.
Continua: “Além do mais, vou explicar o segredo da vitória, o vaso realmente é frágil, mas Eu o moldo com Minhas próprias mãos e o faço passar pelo fogo para que ele suporte carregar um preciso tesouro dentro de si, que é a arma secreta da peleja. Não é pela força nem por violência, mas pelo meu Espírito”.
Paulo conheceu aflições que pressionavam-no de todos os lados, porém nunca foi cercado ao ponto de ser esmagado. Encontrou-se em circunstâncias desnorteantes, mas nunca chegou ao ponto de se desesperar. Seus inimigos haviam seguido seus passos, mas Deus nunca deixou cair em suas garras. Abateram até o chão, porém foram impedidos de dar o golpe fatal![6]
Entendem porque Paulo já tinha afirmado: “Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Co 9.26-27).
Vale citar a mesma referência na NTLH: “Por isso corro direto para a linha final. Também sou como um lutador de boxe que não perde nenhum golpe. Eu trato o meu corpo duramente e o obrigo a ser completamente controlado para que, depois de ter chamado outros para entrarem na luta, eu mesmo não venha a ser eliminado dela”. Aleluia!
Felipe J. L. Campos
NOTAS

[1] Etimologicamente a expressão era utilizada para dar ao adversário algo para fortalecê-lo e equilibrar a disputa, uma vez que na época da popularização da expressão o chá era usado como remédio.
[2] Essa expressão é usada para denominar aquela pessoa que está abaixo do nível dos demais competidores, uma vez que o leite no café reduz seu gosto forte. Café com leite é uma pessoa fraca em disputas, no nosso contexto, um vaso de barro.
[3] Em 28.10.2009 na 86ª Escola Bíblica de Obreiros em Maceió-AL.
[4] COMENTÁRIO BÍBLICO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.1091.
[5] BÍBLIA DE ESTUDO DAKE (ARC). Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.1856.
[6] COMENTÁRIO BÍBLICO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.1091

5 de mai. de 2010

TEOLOGIA - Entendendo o triunfo e a fragrância

No segundo capítulo, versículo dois da segunda epístola de Paulo aos coríntios, ele fala de alegria e tristeza. Alegrou-se no versículo doze do mesmo capítulo por uma porta que o Senhor abriu, mas no versículo seguinte se entristece porque não encontrou a seu amigo Tito, corroborando para o que afirmamos na introdução sobre o paradoxo na vida de Paulo.

Após tudo isso Paulo escreve: “E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento” (2 Co 2.14)”.

A maioria dos estudiosos entende que ao fazer a declaração acima, Paulo faz uma alusão ao chamado triunfo, que era um desfile onde os generais romanos, após a vitoriosa campanha militar, passeavam por toda cidade exibindo os presos condenados à morte, que permaneceram fiéis ao general derrotado, e os salvos da pena de morte, mas condenados à escravidão, pois mudavam de lado e decidiam seguir ao General Vitorioso. Ainda durante esse desfile, o Cortesão ia à frente espargindo perfumes ou incensos.

Temos que entender, que o Cortesão que conduz o desfile é Deus e o General Vitorioso (Varão de Guerra) é Jesus, Ele pelejou contra os exércitos do mal, ao qual toda a humanidade fazia parte – inclusive você e eu, e saiu vitorioso.

O mesmo Varão que feriu a Jacó, foi o que nos feriu e fez a seguinte proposta: mudar de lado na batalha ou permanecer fiel ao seu general derrotado. Os que não aceitam a proposta, a fragrância que se espalha por todos os lugares tem cheiro de morte, mas para os que passam, mesmo feridos, para o lado de Cristo, passam a ter a pena de escravos de Cristo e direito à vida. Por isso Paulo afirmou: “Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida. E, para essas coisas, quem é idôneo?” (2 Co 2.15-16).

O Cortesão deu seu próprio General, pois se agrada com o cheiro do General ferido, mas vitorioso, para nos salvar da condenação da morte. Durante a crucificação além de ferido, Jesus foi literalmente moído por nossas iniquidades (Is 53.5). Morreu, mas ao terceiro dia ressuscitou!

Um dos hinos mais belos que ouvi é “Above all” de Michael W. Smith, em especial na estrofe que afirma: “Crucified laid behind the Stone. You lived to die rejected and alone. Like a Rose trampled on the ground. You took the fall and thought of me.” Que em livre tradução é “Crucificado, deixado no sepulcro. Vieste morrer, rejeitado e só. Como uma rosa, jogada no chão. Foste por nós, pensastes em mim”.

Jesus no calvário foi esmagado (moído) como uma flor, para que a sua fragrância se impregnasse em nós e espalhássemos o “bom cheiro de Cristo” por todas as partes.

Hoje, a semelhança de Jesus, nós somos essa flor esmagada e quanto maior o sacrifício do nosso ministério, mais o “bom cheiro de Cristo” vai exalar de nós. Paulo afirmou: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo[…]”.

O ministério de Paulo reside em sacrifícios tal como todos os ministérios autênticos, pois são nas lutas e sofrimentos, que a boa fragrância de Jesus Cristo emana do nosso ser e os milagres acontecem nos fazendo triunfar. Aleluia!

A glória do ministério cristão está, verdadeiramente, na simplicidade, sinceridade e franqueza com que se anuncia o Evangelho. Paulo tinha desejo de espargir o “bom cheiro de Cristo” por todas as partes. E de fato o fez através do seu sacrifício e de seus discípulos – mestres autênticos – o Evangelho se expandiu, impactou a Europa, a América, o mundo e chegou até nós.

Felipe J. L. Campos

27 de abr. de 2010

TEOLOGIA - As sete dispensações

Existe alguma dúvida e diversas classificações sobre as dispensações e resolvi postar uma divisão clássica na visão de Watchman Nee, grande escritor cristão:

Inocência: Adão no Paraíso

Da criação à sua queda (Gn 1:28, 3:24)

Julgamento: Expulso do Édem.

Consciência: Caim e Abel

Da expulsão do Édem ao Dilúvio (Gn 3:23, 6:7).

Julgamento: Dilúvio.

Governo Humano: Noé

Do Dilúvio a Abraão (Gn 8:21 a 11:9).

Julgamento: Torre de Babel.

Promessa: Abraão

De Abraão ao Cativeiro no Egito (Gn 11:31 a Ex 19:8).

Julgamento: Cativeiro no Egito.

Lei: Moisés

Do Sinai ao Calvário (Ex 19:8 a Mt 27:35).

Julgamento: Destruição do Templo no ano 70 DC.

Graça: Jesus

Do Calvário ao Arrebatamento (Jo 1:17; Ap 11:15; 12:5, 6).

Julgamento: A Grande Tribulação

Justiça: Cristo e os Vencedores

Do Arrebatamento ao fim do Milênio (Ap 11:15; 19:20, 20:3; I Ts 4:13-17)

Julgamento: Fogo do Céu. (Ap 20:9)

Qual é o propósito das Sete Dispensações?

A fim de entendermos a Bíblia claramente, devemos estudá-la de acordo com a sua verdade dispensacional. Deus tem uma maneira especial de tratar as pessoas numa determinada época ou dispensação. Se lermos a Bíblia sem considerar a dispensação, descobriremos muitas contradições difíceis de serem explicadas. Reconhecemos que existe uma progressão da verdade nos livros da Bíblia. O que foi considerado claro no inicio do Antigo Testamento vem a ser imperfeito sob a clara luz manifestada no tempo do Novo Testamento. A razão disso não são os diferentes conceitos do homem a respeito de Deus, mas por causa dos vários graus da revelação de Deus aos homens. Visto que Deus trata com o homem de acordo com a dispensação, Ele Se revela a ele gradativamente, de acordo com Sua exigência para com ele naquela dispensação em particular. Muitos aceitam apenas duas divisões na Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento. Leitores cuidadosos entretanto, encontram na Bíblia uma síntese das Sete Dispensações. Tal divisão não é arbitrária; pelo contrário, é muito natural para os que leem a Escritura com cuidado e estudo. Se ignorarmos estas distinções, vamos esperar que as pessoas de uma dispensação guardem a lei da dispensação de outra. Isto só trará muita confusão e um entendimento errado da Palavra de Deus. O propósito principal dessas Sete Dispensações é mostrar ao homem como ele deve depender da graça de Deus para ser salvo. A promessa de Deus a Abraão foi dada visando salvar o homem por meio da graça, mas o homem não confessou seus pecados nem reconheceu sua fraqueza. Assim, para mostrar a incapacidade em fazer o bem, Deus acrescentou a Lei depois da Promessa dada a Abraão. Desse modo, Deus leva o homem a se conhecer antes que confesse sua total inutilidade e depravação. Quase 1500 anos foram gastos para se mostrar ao mundo que "não há quem faça o bem nem um só" (Rm 3:12).

Autor: Watchman Nee

19 de abr. de 2010

APRENDENDO COM JAIRO A OBTER E MANTER UM GENUÍNO AVIVAMENTO


Comecei hoje (19.04) a ministrar o curso com o tema em destaque. Na primeira aula abordei conceitos de avivamento e sua necessidade. Amanhã (20.04) analisaremos o avivamento ao longo da história. No feriado de quarta-feira (21.04), como obter um genuíno avivamento e na última aula (22.04) encerrarei mostrando alguns segredos de como mantê-lo.

Responderemos algumas dúvidas: Avivamento ou despertamento. Ser cheio do Espírito Santo é a mesma coisa de ser batizado no Espírito Santo?

“Todos os ministros devem ser ministros de avivamento, e toda pregação deve ser pregação de avivamento” - Charles G. Finney.



17 de abr. de 2010

Por que Jeremias profetizou na porta do templo?

O profeta Jeremias, no capítulo 7 do seu livro, é ordenado pelo próprio Deus a se colocar na porta do templo de adoração em Jerusalém e proferir Suas palavras de correção e juízo. Por que Deus pediu para Jeremias anunciar ousadamente Sua palavra na porta do templo?

Na época da declaração, Judá passava por uma deplorável situação política e religiosa, corrupção, opressão contra os mais fracos (estrangeiros, viúvas e crianças), homicídio de inocentes e idolatraria (Jr 7.5,7).

A situação era tão grave que não havia tempo para que Jeremias pregasse um sermão profético no altar para os religiosos e repetir as mesmas palavras na porta do templo para o povo.

Se naquela época o tempo era escasso, imaginemos hoje. Não há tempo para os pregadores que brincam com o povo massageando seu ego afirmando o que o auditório quer ouvir. Em uma confraternização de jovens o Pr. José Orisvaldo Nunes afirmou que está difícil ouvir uma mensagem de Deus, pois só estão pregando “massagens”, fazendo uma clara alusão as mensagens de auto-ajuda.

Logo, os dois primeiros motivos de o profeta ter pregado na porta do templo é porque Deus tinha pressa que seu povo se arrependesse e para que todos ouvissem a Sua mensagem.

Preguemos ininterruptamente a palavra do Senhor, segundo a Sua soberana vontade e não extingamos dos nossos altares mensagens bíblicas de ensino, repreensão e correção, pois todos necessitam ser instruídos em justiça e aperfeiçoados (2 Tm 4.16-17).

No livro do profeta Jeremias, lemos sobre muitos falsos profetas que falavam o que os líderes e o povo queriam ouvir, ser profeta de conveniência é fácil. Na época do profeta Jeremias havia a granel, não é difícil notar que esses fizeram escola e que seus seguidores têm se proliferado como ervas daninhas no meio do trigal. Todavia, Deus já nos advertiu sobre esses:

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam; ensinam-vos vaidades e falam da visão do seu coração, não da boca do SENHOR” (Jr 23.16)

É fácil encontrar quem afirme aos reis: “Deus está contigo”, sem Deus ter dito, afinal corriam o risco de, no mínimo, perder o “emprego” e o status. Difícil é encontrar quem profetize: “convertei-vos dos maus caminhos” a quem Deus ordenar (Jr 7.3,5; 2 Cr 7.14).

O pastor Claudionor de Andrade afirmou que a síndrome do politicamente correto tem atingido a muitos pregadores. De fato a autenticidade está sendo substituída pela polidez, estão preferindo ser politicamente corretos a autênticos profetas.

Temos que falar a palavra de Deus com ousadia, que é ser intrépido sem ser afoito, ser afoito é falar mensagem de correção sem Deus ter mandado, ainda que a intenção seja nobilíssima, que é a edificação da casa de Deus. Jeremias falava apenas o que o Senhor lhe ordenara (Jr 7.1-3).

Não é fácil encontrar quem entregue uma mensagem de Deus independente das circunstâncias e consequências, tem que ser alguém que tenha coragem e integridade. Não pode haver falhas no seu caráter, muito menos na sua reputação. Perde a força de corrigir quem comete as mesmas condutas errôneas, será esse o motivo de as mensagens de correção terem sumido da maioria dos púlpitos?

Ademais, mesmo vivendo nesse caos, havia a teologia do templo que, segundo o pastor Claudionor de Andrade, os religiosos acreditavam que “o Senhor jamais permitiria que Jerusalém fosse destruída, porque nela encontrava-se o Santo Templo. Como, pois, consentiria Ele na profanação da Cidade Santa? Afinal, o Templo custodiava-lhe a arca e perenizava-lhe o nome. Por isso, pressupunham-se, arrogantemente, seguros”.

A preservação do povo de Deus não está condicionada a objetos, símbolos ou frases mágicas. Se não fosse assim, o antigo santuário de Siló não teria sido destruído em 1050 a.C. pelos filisteus e a arca da aliança exposta como troféu no templo de deuses pagãos (1 Sm 4). A vitória do povo de Deus está condicionada a obediência a Sua voz, pois só assim teremos certeza que a aliança ainda está de pé.

Logo, o profeta pregou na porta do templo para desmitificar teologias falidas, para ensinar-nos que a eficaz proteção de Deus está subordinada à obediência do seu povo e para mostrar que Deus apenas usa aquele que tem um caráter ilibado, aquele que está na brecha, tapando as fissuras. Esses são mais três motivos.

Precisamos de mais atalaias, que não temam perder o status, mas o caráter; que não retenham o recado de Deus, mas a anuncie ousadamente; que não sejam cheios de polidez, mas de ousadia para anunciar a palavra de Deus, mesmo que corramos o risco de perder a própria vida.

Afinal de contas, “se nos deixarem viver, viveremos, e, se nos matarem, tão-somente morreremos” (2 Rs 7.4d).

Felipe J. L. Campos

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